Na noite de Pessach, o tempo se dobra, e a história se torna presente. Também chamada de "Festa da Libertação", "Festa dos Pães Ázimos" e "Festa da Primavera", Pessach significa "passagem" em hebraico, evocando a travessia dos hebreus da escravidão para a liberdade. Chag Hamatzot, Chag Haaviv e Chag Hacheirut são nomes que ecoam diferentes aspectos desta celebração: a lembrança dos pães ázimos, o renascimento da primavera e o triunfo da liberdade.
Uma mesa é posta como um pergaminho vivo, onde símbolos milenares sussurram memórias de escravidão e redenção. No centro, repousa a Hagadá, o livro que guia o caminho da lembrança, entre brachot e cânticos, conduzindo cada coração pela travessia do mar vermelho da neshamá.
Sobre os pratos na mesa do Seder, os elementos falam:
A matzá, o pão da aflição e da pressa, recorda os passos apressados daqueles que partiram sem esperar o fermento crescer.
O maror, ervas amargas, carrega em seu sabor a dureza dos anos de opressão.
O charoset, doce mistura de nozes, frutas e vinho, traz o peso da argamassa moldada por mãos cansadas, mas também a doçura da resiliência.
O karpas, verde e fresco, mergulha na água salgada, como lágrimas que caem e anunciam um novo ciclo.
O zeroah, um osso de carne assado, evoca o sacrifício da Pessach, a oferenda que ecoa através dos séculos.
O beitzah, o ovo assado, símbolo da vida que renasce e da fé inabalável.
Quatro taças se erguem ao longo da noite, lembrando as promessas da libertação. O vinho ou suco de uva flui como as águas do Mar Vermelho, marcando momentos sagrados da jornada. Uma taça solitária, intocada, aguarda Elias, o profeta que anunciará a redenção final. Com este vinho, 10 gotas representam as 10 pragas para a libertacao.
A refeição se desenrola entre aromas e tradições. O caldo quente da sopa de bolinho de matzá aquece corpos e almas; o sabor rico do peito bovino conta histórias de gerações. Cada prato, preparado com esmero, mantém-se fiel às leis de kashrut, honrando a essência da festividade.
As vozes se unem no cântico e na narrativa. Crianças de olhos atentos procuram o Afikomen, escondido como um mistério a ser revelado. Quando o encontram, celebram não apenas um jogo, mas a continuidade do povo que se lembra, ensina e sonha. Recompensas são dadas, não apenas em gestos, mas na promessa de que a tradição seguirá viva.
E assim, entre palavras e sabores, bênçãos e melodias, Pessach acontece: não apenas como um rito, mas como um reencontro com o passado e uma janela para o futuro. Uma noite diferente de todas as outras, onde a liberdade é celebrada, recontada e, acima de tudo, vivida.
Renato Athias
Usamos cookies para analisar o tráfego do site e otimizar sua experiência nele. Ao aceitar nosso uso de cookies, seus dados serão agregados com os dados de todos os demais usuários.